Pequeno Príncipe: outra estória

Por Osvino Toillier – vice-presidente do Sinepe-RS
osvino@sinepe-rs.org.br

Você pode não lembrar o autor – Antoine de Saint-Exupéry –, mas o livro e a estória do Pequeno Príncipe certamente sim, porque girou ao redor do mundo e foi traduzida para muitos idiomas. O conteúdo tem lugar privilegiado em nossa memória e nos inspira para gestos sublimes, visão poética para transformar as agruras da vida e romper com a pequenez a que muitas vezes nos recolhemos, renunciando aos encantos e maravilhas que nos cercam.

Ele lutou na guerra civil espanhola, caiu prisioneiro e seria executado no dia seguinte. Muito preocupado e nervoso com o futuro que se desenhava trágico, Exupéry decidiu fumar um cigarro e, como não tinha fósforos – que lhe foram tirados pelos soldados na prisão – pediu ao carcereiro para acendê-lo. Suas mãos tremiam em razão do nervosismo, mas sorriu ao soldado na hora em que este lhe acendia o cigarro.

Diante da inusitada cena, Exupéry continuou sorrindo, até que o carcereiro também sorriu. De repente, um sorriso quebrou o gelo entre os dois humanos e, na troca de olhares, surgiu um sentimento que superou a relação de humilhação e submissão para se deixar iluminar pela pureza de um sorriso, e o prisioneiro pôde ver no carcereiro uma pessoa humana.

A intensidade do sorriso cedeu lugar ao diálogo. Exupéry perguntou ao carcereiro se tinha filhos, e este lhe mostrou as fotos que carregava consigo. Ambos exibiram as fotos dos filhos, mas os olhos de Exupéry se encheram de lágrimas, afirmando que não tinha planos para eles, porque nunca mais os veria. De repente, os olhos do carcereiro também se encheram de lágrimas e, sem nenhuma palavra, conduziu o ilustre prisioneiro para fora da prisão e o liberou. Exupéry escreveu que sua vida fora salva por um sorriso do coração.

Existem energias profundas e milagrosas que podem nos conduzir nos momentos mais difíceis da vida. O Pequeno Príncipe nos ensina que “somente com o coração podemos ver com clareza”. E mais do que isto: “Eu não preciso de ti. Tu não precisas de mim. Mas, se tu me cativares e se eu te cativar, ambos precisaremos um do outro. A gente só conhece bem as coisas que cativou. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. É por isto que a lição do Pequeno Príncipe é tão encantadora!

Fonte: JornalNH – Coluna Opinião
https://www.jornalnh.com.br/_conteudo/2016/05/noticias/regiao/337118-pequeno-principe-outra-estoria.html

–o0o–

Notas do autor do blog:  o texto acima também foi tema de 1 texto do Momento Espírita (http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2879&)

Recebi ainda este texto, pelo WZap, abordando questões de memória do coração. Fui confirmar se é real o fato histórico e me surpreendi! Descobri que até mesmo documentos dessa participação de Exupéry na Guerra Civil Espanhola foram recentemente encontrados. (http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/07/licenca-de-reporter-de-saint-exupery-na-guerra-civil-espanhola-e-achada.html)

Entretanto, gostaria de comentar a frase (que sempre me incomodou): “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.  Sempre pensamos em “cativar” no sentido de criar um laço emocional com alguém, de cuidar. Assim, seria um laço de eterno cuidado com alguém. Mas vamos ver no dicionário?

“cativar”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/cativar [consultado em 27-01-2020].

(latim captivo, -are, fazer cativo)

verbo transitivo

1. Tornar cativo, reduzir a cativeiro.
2. Subjugar.
3. Seduzir.
4. Encantar.
5. Hipotecar.
6. [Finanças]  Não atribuir verbas ou montantes previstos para despesas (ex.: o Governo vai cativar despesa no valor de vários milhões de euros).

Ou seja, todos que cativamos, que subjugamos, que seduzimos, que reduzimos a cativo, passamos de fato a ser eternamente responsáveis por estes. Cuidemos para que nosso amor seja sempre o amor que liberta.

Lembrando que, como nos diz Wanderley Oliveira em seus livros, depois que formamos um laço fluídico com uma pessoa, esse laço nunca mais desaparece. Cuidemos ainda de manter desintoxicado, de manter limpo todos os laços que temos com todas as pessoas, em nome da nossa paz, da paz delas e da paz do mundo.